O Estado Brasil

Anualmente, numa cerimônia de mais de dois séculos de existência, o presidente americano dirige-se ao Legislativo e ao povo em geral e em linguagem clara,  relata qual a situação em que se encontra a União.

O “Estado da União” como é chamada a fala do presidente não é um desfilar de demagógicas intenções nos moldes dos que encontramos no Brasil, por exemplo, mas uma reflexão sobre a realidade americana no momento da fala e as possíveis medidas a serem tomadas para os problemas correntes.

Há exceções é lógico. A ultima, do presidente Obama, feita às vésperas da bastante simbólica visita de Hu Jim Tao, o premier chinês, foi uma fala genérica, recheada de obviedades e que não trouxe um rumo sequer, a um apreensivo globo, que vê a moeda americana despencar, inviabilizando o comércio de exportação para os Estados Unidos.

Nestas águas turvas os americanos não estão sozinhos, pois a China navega no mesmo sentido e Hu Jim Tao, obviamente, não veio trazer uma solução para os problemas globais.

A China com seu câmbio engessado, onde o Yuan é uma moeda virtual, artificialmente cotada e desvalorizada, que favorece sobremaneira as exportações,  essenciais para a manutenção dos altos índices de crescimento, tem nos Estados Unidos um parceiro irmão de fé e camarada, que vê no mercado externo a saída para uma crise que eles mesmos geraram. Para males iguais, remédios parecidos.

Os países que dependem de superávits cada vez maiores para fazer frente ao endividamento interno e externo,, como o Brasil, com a estratégia sino-americana vêem-se numa ciranda perversa, numa equação, que não apresenta uma solução num horizonte próximo.

Atentemos: A moeda americana perdendo valor interno estimula a aplicação em moeda forte, no caso o real, provocando a entrada desenfreada de dólares especulativos, o que colabora ainda mais para a corrosão de ativos em moedas estrangeiras.

Assim, o Brasil que é forte exportador de commodities, as usa como moeda de troca por produtos industrializados chineses e americanos, com alto valor agregado, comprimindo a entrada de divisas não-especulativas.

Só restando ao país uma saída, uma política agressiva de juros internos praticados, que vão pressionar ainda mais o déficit público e a entrada de capital de alta-rotatividade que mais aumenta o tamanho do buraco em que nos metemos em razão da busca de um desenvolvimento artificial, sustentado em capitais emprestados.

Para os países, que necessitam urgentemente de superávits em sua balança comercial, para fazer frente aos compromissos em moeda estrangeira, ironicamente e por maior absurdo que possa parecer, uma nova crise, porém maior do que a de 2.008, com todas as suas conseqüências funestas, seria uma solução, amarga, mas seria.

Como austeridade é uma palavra que ainda não está no dicionário do novo governo neste abúlico início de nova gestão, que só faz repetir o governo anterior na política de aumentar os juros básicos da economia, deveríamos espelhar-nos no exemplo americano, reservando os primeiros cem dias de governo, para aplicar todos os remédios amargos, ou não, que possibilitariam um navegar tranqüilo pelos quatro anos de mandato.

Como não faz, preferindo périplos desnecessários como o recente à Argentina, levando-nos a crer que Dilma não sabe ainda a que veio e sua ascensão à presidência foi meramente casual.

No momento, a terra de Maradona carece de importância fundamental aos destinos do país. Não que o país platino deva ser tratado como parceiro de segunda classe, pelo contrário. A questão é de oportunidade.

O governo deveria reservar esses cem dias para elaborar uma rota a ser seguida, que afastasse de vez o fisiologismo, que cuidasse de assuntos prioritários para a nação brasileira, que certamente não passam por viagens de resultados duvidosos ao exterior.

Coluna do Sardinha, n° 187

Luiz Bosco Sardinha, advogado e jornalista

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