O molusco

“O Brasil “B” virou pós-moderno, dos delegados e de vários outros sem uma efetiva formação, um assassinato ao que restava da aristocracia genuína no País. O Brasil do neopentecostalismo, dos ignorantes e milionários técnicos de futebol, dos atletas alcoólatras senão drogados, da música sertaneja de baixa qualidade, da falta de educação, do neo-ateísmo, da predominância de castrantes megeras calejadas sobre moçoilas românticas, da promiscuidade sensual e do pit bull.”

Nicolau Ginefra

Waldo Luís Viana*

         Ninguém mais aguenta o molusco. Nem ele está gostando de si  próprio. Sem laringe e poder, vai mofando, extinguindo-se pouco a pouco, até fazer cocô no pijama.

         Como é enfadonho enumerar suas gafes e platitudes. Quando no governo, ficávamos à mercê das imbecilidades, batatadas e erros de português. Nunca dantes “nezte paíze”…

         Agora o troncho psiquê, à procura de um psicanalista freudiano – do mesmo modo que Pirandello à procura de um autor –, lamenta-se de não conseguir mais interferir nos acontecimentos e traz-nos, de maneira angustiada, um erro atrás do outro. Realmente, uma mente não brilhante…

         A própria turma que o aplaude automaticamente está com medo. Querem até encabrestar a imprensa livre, temendo o pior. O “homi” estimulou uma CPI, que não iria dar em nada, mas que hoje ninguém sabe onde vai dar.  Logo após brindou-nos com um encontro, à sorrelfa, com dois personagens republicanos, para tentar adiar o julgamento do mensalão.

         Como em política o que vale não é o fato, é a versão, o cefalópode  ficou mal na fita. Falou demais e o tiro saiu pela culatra. Rebolou, mas não emplacou. Quer ser notícia toda semana, engolfando até sua  criação presidencial de laboratório.

         A CPI não era pra apurar nada, mas qualquer coisa que fizer vai sepultar meia república, porque o vespeiro de Brasília incrimina todo mundo. Era pizza de mentirinha, mas começa a cheirar mal e, por sua vez, o encontro para encobrir o mensalão soou pior, gerando um clima de interferência indevida na cabeça dos juízes.

         O molusco não vive sem manchete, quer ser comentado, apesar de haver ficado sem a “presidença”. No entanto, ele é capaz de sacrificar tudo pra não ver os “pobre cumpanhêru” nas barras dos tribunais.  Dessa vez, não foi a oposição incompetente a culpada. Foi ele mesmo, envolvido nas traquinagens dos iguais, no reino animal.

         O cefalópode estava no topo da cadeia alimentar, mas agora é repasto do que há de pior no fundo das águas. Afinal, as lulas são capturadas por holofotes e até os pescadores sabem disso: colocam luzes de noite e elas vêm à tona. Assim, temos a figura ridícula e indecorosa, tentando reaparecer a qualquer preço.

         Na verdade, é o vil cambalacho daquele que deseja ficar acima d’água, exibindo ignorância. Ela manifesta-se no desespero da ausência de poder, que se descabela e transborda pela falta de compostura.

         Quando vier o julgamento tão amaldiçoado pelos aliados, vamos ver o espetáculo trágico de um grupo que não quer perder o poder, misturando-se com a crise econômica que se avizinha em passadas olímpicas. E, dessa vez, não se poderá culpar as oposições, porque,  adesistas e incompetentes, se especializaram em não fazer nada. Os escândalos sucedem-se com presteza, mas não têm apetite, dando a impressão de que é cômodo viver nessa atmosfera de Estado corrupto, em decomposição.

         O molusco reúne as últimas energias que lhe restam. Teima em não ser arpoado pelos acontecimentos, pretendendo continuar a falsa epopéia de rei do mar.

         Que angústia não conseguir mais nomear e demitir seus peixes! Como é triste viver do passado, achando que ainda mexe os cordéis da história. Será lembrado somente pela velha frase: “eu não sabia de nada!” – que hoje é moda em todos os quadrantes da política.

         O cefalópode apedeuta não quer voltar às profundezas. Na verdade, luta a todo custo para se manter na crista das ondas, tal e qual um surfista jovem. Na verdade, entretanto, tornou-se um velho e ridículo Napoleão de hospício.

Ele luta e esperneia, mas não ganha mais nada! É um arremedo que causa pena! Em verdade, o molusco é a metástase dos furtos do mar!

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*Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e adora bacalhau e camarões…

Teresópolis, 29 de maio de 2012.

 

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