No – 147 – COLUNA DO SARDINHA
22.02.2010
Se a palavra “se” não fosse irrelevante para a História, certamente os rumos que o país tomou nestes últimos cinqüenta anos teriam sido bem outros.
Muitos fatos relevantes para a vida da nação, se não tivessem ocorrido, coisas boas e más que desencadearam como conseqüência daqueles, teriam mudado completamente o país que temos hoje. Assim, corriqueiramente cita-se a morte de Getúlio, de Tancredo Neves, como exemplos de fatos relevantes, que tiveram importância na moldagem do país e que se não tivessem acontecido a história talvez, teria sido outra. Estes são apenas dois, que ao lado de inúmeros, são fatos históricos de importância inegável, que merecem destaque e que também influenciaram para o bem ou para o mal os fatos que lhes sucederam.
Nesta linha foi, sem dúvida, de capital importância para a formação do sistema partidário que temos hoje, o ocorrido durante o golpe militar desferido na primeira metade da década de 60 do século passado, quando tínhamos dois partidos políticos de funcionamento consentido, que davam uma aparência democrática ao regime, a ARENA – Aliança Renovadora Nacional – e o MDB – Movimento Democrático Brasileiro.
A ARENA dava respaldo ao governo, inclusive parlamentar, permitindo a aprovação de todos os atos ditos “revolucionários”, inclusive os que garroteavam os dissidentes que surgissem. Era chamada pela imprensa crítica ao regime, de partido do “sim”, do “amém” e outros epítetos desairosos. Há ainda vários políticos na ativa que pertenceram à extinta sigla partidária: Sarney, Lobão, José Agripino Maia e outros.
O MDB fazia o que podia, principalmente o papel de oposição consentida, cuja finalidade era dar legitimidade ao regime. Isso não queria dizer no entanto, que não tinha em seus quadros elementos destemidos, capazes de desafiar o status quo, sem medo das ameaças e represálias. Paulo Brossard de Souza Pinto, tribuno gaucho, Teotônio Vilela, o menestrel das Alagoas no Senado, Ulisses Guimarães na Câmara, seguidos por muitos, não temiam a espada do arbítrio que pairava sobre suas cabeças.
Mas, na média, como uma verdadeira federação das oposições, sem contornos ideológicos, pouco podia e pouco fazia a não ser tentar buscar nas urnas o respaldo para as idéias de redemocratização, que era basicamente a plataforma do Movimento.
Com isto, o MDB cresceu e começou desafiar o regime, que maquiavelicamente engendrou o fim dos dois partidos políticos, apresentando novas regras para a existência deles, inclusive uma delas, que obrigava as novas agremiações a usarem a denominação de “partido”! Com isto abriram-se no partido oposicionista duas correntes: a primeira que defendia sua auto dissolução e a segunda pela continuidade na agremiação que surgiria.
Esta ultima corrente era defendida por Ulisses Guimarães, que repetia Fernando Pessoa dizendo que “navegar era preciso” e para tal era preciso estar vivo. Tese esta que foi a vitoriosa, surgindo então o PMDB.
Pelo desenrolar dos acontecimentos, que viriam nestes quase quarenta anos de existência, desembocando na ultima convenção do Partido dos Trabalhadores, onde o presidente nacional do partido, Deputado Michel Temer, compareceu para externar um adesismo interessado, o PMDB deixou de ser um partido de programas e idéias, para ser um apêndice do poder, não importando quem encarne este poder e dando por isto razão aos que advogavam a tese da auto dissolução.
Um gigante de idéias nanicas, este é o PMDB, que diz ter deixado de ser programático para ser pragmático, para não dizer adesista e fisiológico. Foi assim com todos os inquilinos que passaram pelo Palácio do Planalto nestes últimos vinte e tantos anos. Repetiu a ARENA dos bons tempos.
Culpa dele? Não, pois é o PMDB produto perfeito e acabado da legislação político-partidária que temos, onde o voto do eleitor só tem valor, antes de ser depositado na urna, após, seja o que Deus quiser.
Programas, partidos, ética, eleitores… ora!
Luiz Bosco Sardinha Machado
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