O sucessor de ciro gomes

“Melhor que o governo atual,

só o próximo…”

Ditado popular mineiro

Waldo Luís Viana*

Ciro Gomes caiu, como todos sabem… Foi vítima de seu próprio partido, que não pretendia abdicar da “boquinha” no governo federal e da traição do presidente da República, que lhe pediu para transferir – e até agora só sabemos que a troco de nada! – o domicílio eleitoral do então presidenciável para São Paulo.

É evidente que esse jogo político mal explicado e o seu resultado demonstram que Lula deseja uma eleição presidencial plebiscitária, entre dois candidatos definidos, um do governo e outro, da oposição. No cenário desenhado, Ciro Gomes tornou-se pedra no sapato.

Nesse novo bipartidarismo, na prática, que se deseja fixado, semelhante ao pobre arranjo entre ARENA e MDB durante a ditadura militar, o PT dos grotões, da bolsa-família e da redenção dos “pobres” quer ser confrontado com um morno PSDB, presumido partido das classes altas e médias, das privatizações descabidas e da burguesia egoísta e esfomeada.

E Ciro Gomes, candidato oriundo da região Nordeste, sempre dependente dos favores do governo, traria uma cisão nessa equação banal, longamente gestada na cabeça do presidente. Este considera –  até acertadamente – que o povo brasileiro prefere se adaptar à lógica do mocinho e bandido e da luta eterna entre deus e o diabo, típicas de um maniqueísmo mental aplicável a um eleitorado que, em sua maioria (80%) recebe menos de cinco salários mínimos e só se interessa por futebol, novelas, cerveja e carnaval.

Ocorre, porém, que a realidade não é tão simples assim e a política, principalmente a pretensamente mais alta, fede muito e de maneira complexa, vaticinando uma campanha extremamente suja e recheada de golpes baixos de parte a parte.

O PSDB, a “nova direita” como o qualifica o outro lado, uma agremiação que durante a crise do mensalão petista, em 2005, se contentava em “ver o Lula sangrar”, deseja também o PT como único adversário, tentando solucionar o processo eleitoral como verdadeira “ação entre amigos”. O pleito seria, para os tucanos, uma espécie de rifa entre companheiros de viagem social-democratas, que pretendem  de fato uma composição moderada para o país, um governo de centro-esquerda em aliança com os políticos tradicionais, empresários, banqueiros e entre os mesmos oligarcas patrimonialistas e atrasados de sempre.

Por seu turno, o PT intenciona eternizar a sua máquina que aparelhou o Estado de ponta a ponta, prodigalizando favores a fundos de pensão, sindicatos, ONGs e movimentos sociais. Jamais a pelegada teve vida tão nababesca e deseja naturalmente continuar assim. Enquanto no surrado regime militar, os dirigentes recebiam sua legitimidade das Forças Armadas e do consenso dos quartéis, o partido hoje no governo recebe uma couraça protetora das instituições acima referidas, assim como cuida de manter vasta soma de recursos financeiros em paraísos fiscais, no exterior.

Tal encaminhamento “socialista” não é novo. Foi praticado analogamente na transição política soviética, com a extinção da URSS, em 1992, quando os dirigentes da KGB, então a polícia secreta do regime, repatriaram recursos acumulados fora da Rússia, em contas secretas e numeradas, reinstalando-se nos novos tempos democráticos como máfias bem organizadas, patrocinando o surgimento encantado de alguns milionários que passaram a reinar sobre setores-chave da economia.

Como jamais existiu no mundo nenhuma experiência socialista que houvesse cancelado de verdade o capitalismo, temos, como corolário da História, que qualquer governo que se identifique maliciosamente com o socialismo, hoje adjetivado como “de mercado”, haverá de depositar no exterior o dinheiro necessário para cobrir eventuais desastres de percurso eleitoral entre os seus defensores.

Nesse contexto, a candidatura de Ciro Gomes cresceu cedo demais, tornando-se alternativa desconfortável ao aparato erguido pelo sistema. Embora o candidato se caracterizasse como hábil polemista a favor, o próprio governo julgou-o perigoso para as intenções petistas de vitória avassaladora sobre a oposição no próximo pleito e mandou que ele fosse descartado, sem honras, pelo partido aliado.

Com inteligência, o presidente apareceu no episódio (quase, aliás, nem apareceu) como Pilatos de opereta, lavando as mãos sobre o destino do ex-candidato, que fora seu ministro de primeiro mandato, bem como ministro de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, em tempos idos.

Ciro Gomes caiu, também, pela vocação de desagradar a dois senhores: para o PT, só serviria se tirasse votos do candidato da oposição, mas disso o partido no governo não se convenceu; de outra parte, o PSDB também o temia, por considerar que seria uma alternativa de oposição, dividindo os votos dos tucanos, o que beneficiaria o PT. A sua candidatura desequilibraria, enfim, o jogo manifesto e as intenções ocultas dos dois lados.

No entanto, relembrando e parafraseando Mané Garrincha –  que não custa ser relembrado em tempos de Copa –, só esqueceram de avisar ao povo que a disputa eleitoral pra valer será apenas entre os dois candidatos expostos. Embora pareça que a opinião pública só entre nessa barafunda de gaiata, o eleitorado demonstra ansiar por  novidades e até algum espetáculo à parte.

Para os políticos, porém, que necessitam ver o povo atrás dos cordões de isolamento após as eleições, basta a contenda entre os dois potentados e depois o regresso ao melhor dos mundos. Mas… (e a política é a terra do mas…), as coisas não se encaixam assim…

Apesar de tudo o que esta aí, podem surgir novidades e a equação proposta entre uma candidata governamental e um tucano  oposicionista não é ainda a definitiva. Não mais Ciro Gomes, mas seu sucessor, outra alternativa concebida pela maioria silenciosa, que não deve nada a nenhum dos dois candidatos. Tudo é possível nesse país tão grande e indecifrável para principiantes…

Quanto ao neocoronel nordestino, o seu destino é sabido: vai adaptar-se às funestas circunstâncias, atirando para todos os lados e engordando o cacife para futuros voos, com o ar de nobre ofendido que lhe é peculiar, lembrando aquela criança que faz beicinho quando lhe retiram o doce.

O que é certo é que o próximo governo, seja qual for, se lembrará dele quando a poeira baixar. Isso é Brasil!

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* Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e adepto daquele ditado popular sérvio: “diga a verdade e saia correndo…”

Teresópolis, 1º de maio de 2010.

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Ciro Gomes caiu, como todos sabem… Foi vítima de seu próprio partido, que não pretendia abdicar da “boquinha” no governo federal e da traição do presidente da República, que lhe pediu para transferir – e até agora só sabemos que a troco de nada! – o domicílio eleitoral do então presidenciável para São Paulo.

É evidente que esse jogo político mal explicado e o seu resultado demonstram que Lula deseja uma eleição presidencial plebiscitária, entre dois candidatos definidos, um do governo e outro, da oposição. No cenário desenhado, Ciro Gomes tornou-se pedra no sapato.

Nesse novo bipartidarismo, na prática, que se deseja fixado, semelhante ao pobre arranjo entre ARENA e MDB durante a ditadura militar, o PT dos grotões, da bolsa-família e da redenção dos “pobres” quer ser confrontado com um morno PSDB, presumido partido das classes altas e médias, das privatizações descabidas e da burguesia egoísta e esfomeada.

E Ciro Gomes, candidato oriundo da região Nordeste, sempre dependente dos favores do governo, traria uma cisão nessa equação banal, longamente gestada na cabeça do presidente. Este considera –  até acertadamente – que o povo brasileiro prefere se adaptar à lógica do mocinho e bandido e da luta eterna entre deus e o diabo, típicas de um maniqueísmo mental aplicável a um eleitorado que, em sua maioria (80%) recebe menos de cinco salários mínimos e só se interessa por futebol, novelas, cerveja e carnaval.

Ocorre, porém, que a realidade não é tão simples assim e a política, principalmente a pretensamente mais alta, fede muito e de maneira complexa, vaticinando uma campanha extremamente suja e recheada de golpes baixos de parte a parte.

O PSDB, a “nova direita” como o qualifica o outro lado, uma agremiação que durante a crise do mensalão petista, em 2005, se contentava em “ver o Lula sangrar”, deseja também o PT como único adversário, tentando solucionar o processo eleitoral como verdadeira “ação entre amigos”. O pleito seria, para os tucanos, uma espécie de rifa entre companheiros de viagem social-democratas, que pretendem  de fato uma composição moderada para o país, um governo de centro-esquerda em aliança com os políticos tradicionais, empresários, banqueiros e entre os mesmos oligarcas patrimonialistas e atrasados de sempre.

Por seu turno, o PT intenciona eternizar a sua máquina que aparelhou o Estado de ponta a ponta, prodigalizando favores a fundos de pensão, sindicatos, ONGs e movimentos sociais. Jamais a pelegada teve vida tão nababesca e deseja naturalmente continuar assim. Enquanto no surrado regime militar, os dirigentes recebiam sua legitimidade das Forças Armadas e do consenso dos quartéis, o partido hoje no governo recebe uma couraça protetora das instituições acima referidas, assim como cuida de manter vasta soma de recursos financeiros em paraísos fiscais, no exterior.

Tal encaminhamento “socialista” não é novo. Foi praticado analogamente na transição política soviética, com a extinção da URSS, em 1992, quando os dirigentes da KGB, então a polícia secreta do regime, repatriaram recursos acumulados fora da Rússia, em contas secretas e numeradas, reinstalando-se nos novos tempos democráticos como máfias bem organizadas, patrocinando o surgimento encantado de alguns milionários que passaram a reinar sobre setores-chave da economia.

Como jamais existiu no mundo nenhuma experiência socialista que houvesse cancelado de verdade o capitalismo, temos, como corolário da História, que qualquer governo que se identifique maliciosamente com o socialismo, hoje adjetivado como “de mercado”, haverá de depositar no exterior o dinheiro necessário para cobrir eventuais desastres de percurso eleitoral entre os seus defensores.

Nesse contexto, a candidatura de Ciro Gomes cresceu cedo demais, tornando-se alternativa desconfortável ao aparato erguido pelo sistema. Embora o candidato se caracterizasse como hábil polemista a favor, o próprio governo julgou-o perigoso para as intenções petistas de vitória avassaladora sobre a oposição no próximo pleito e mandou que ele fosse descartado, sem honras, pelo partido aliado.

Com inteligência, o presidente apareceu no episódio (quase, aliás, nem apareceu) como Pilatos de opereta, lavando as mãos sobre o destino do ex-candidato, que fora seu ministro de primeiro mandato, bem como ministro de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, em tempos idos.

Ciro Gomes caiu, também, pela vocação de desagradar a dois senhores: para o PT, só serviria se tirasse votos do candidato da oposição, mas disso o partido no governo não se convenceu; de outra parte, o PSDB também o temia, por considerar que seria uma alternativa de oposição, dividindo os votos dos tucanos, o que beneficiaria o PT. A sua candidatura desequilibraria, enfim, o jogo manifesto e as intenções ocultas dos dois lados.

No entanto, relembrando e parafraseando Mané Garrincha –  que não custa ser relembrado em tempos de Copa –, só esqueceram de avisar ao povo que a disputa eleitoral pra valer será apenas entre os dois candidatos expostos. Embora pareça que a opinião pública só entre nessa barafunda de gaiata, o eleitorado demonstra ansiar por  novidades e até algum espetáculo à parte.

Para os políticos, porém, que necessitam ver o povo atrás dos cordões de isolamento após as eleições, basta a contenda entre os dois potentados e depois o regresso ao melhor dos mundos. Mas… (e a política é a terra do mas…), as coisas não se encaixam assim…

Apesar de tudo o que esta aí, podem surgir novidades e a equação proposta entre uma candidata governamental e um tucano  oposicionista não é ainda a definitiva. Não mais Ciro Gomes, mas seu sucessor, outra alternativa concebida pela maioria silenciosa, que não deve nada a nenhum dos dois candidatos. Tudo é possível nesse país tão grande e indecifrável para principiantes…

Quanto ao neocoronel nordestino, o seu destino é sabido: vai adaptar-se às funestas circunstâncias, atirando para todos os lados e engordando o cacife para futuros voos, com o ar de nobre ofendido que lhe é peculiar, lembrando aquela criança que faz beicinho quando lhe retiram o doce.

O que é certo é que o próximo governo, seja qual for, se lembrará dele quando a poeira baixar. Isso é Brasil!