A luta (de classes) continua

O presidente Lula continua no palanque das greves no ABC. Claro que com outro visual, depois do “banho de loja” de Duda Mendonça na campanha do “lulinha paz e amor”, da cor branca substituindo a vermelha da bandeira petista.

Ernesto Caruso, 12/06/2010

Mudança da água para o vinho … de primeira.

Mas, o pensamento e as palavras, não.

O estigma da luta de classes permanece como esteio que o mantém em elevado nível de popularidade e aceitação, alimentado pelo coronelismo institucionalizado do bolsa família fornecido a 12 milhões de famílias, mais de 40 milhões de pessoas. Aos demais “uma banana”, pois não lhe computam votos, nem aplausos. Mantém o confronto com o patrão, mas sem a intensidade do face a face, capital e trabalho, usando com sapiência o primeiro a embasar a permanência no poder do grupo petista.

Cria a cena do forte contra o fraco e ele, Lula, sempre aparece como defensor do mais fraco.

E o pratica nos campos interno e externo, ampliando a publicidade em torno de si, a custa de quanto, ansiosamente buscando popularidade e projeção internacional. Dá umas cartadas com sabido risco, como nos casos de Honduras/Laya e mais recentemente no acordo Brasil/Turquia/Irã. O alvo é a nação norte-americana no lugar do “patrão”, o mais forte. E mais uma vez, Lula aparece como defensor do mais fraco.

Tentou uma bênção previa com a Rússia, sem resultado, haja vista a decisão do Conselho de Segurança da ONU, por 12 a 2 (Brasil e Turquia) e uma abstenção (Líbano). As suas palavras, pós-decisão, não se confrontam com a Rússia, nem China, mas sim com os Estados Unidos.

Se a posição de Lula desse certo nas ocorrências mencionadas, Honduras e Irã, tanto melhor. O fraco teria vencido, com resultado conveniente no campo interno, em particular na campanha eleitoral presente. Vale o mote “falem mal, mas falem de mim” e a televisão não fala mal, narra o fato. Presença diária nos telejornais, tantos os acontecimentos produzidos. Não há oposição verbal que é muito vista, mas sim, alguma oposição escrita que é pouco lida. Com algum esforço voluntário, o escrito se propaga pela internet para alcançar o jovem.

Uma expressão recente: “Às vezes, me dá a impressão daquele pai duro, que é obrigado a dar uma palmada no filho mesmo que o filho não mereça, para dizer: “eu sou o pai”. Acho que o Conselho de Segurança jogou fora uma oportunidade histórica de negociar o programa nuclear iraniano”. Como impregnado nas telenovelas, o pai nunca está com a razão, é grosseiro e mau.

Em visita à fábrica da Volkswagen no ABC, completa: “Todo mundo falava mal do Irã, mas ninguém tinha sentado no tête-à-tête. Aquilo que os americanos não estavam conseguindo em 31 anos de negociações com o Irã, o Brasil conseguiu em 18 horas de conversa”.

Se a televisão faz uma carga sobre a saúde, até sem apontar o governo como responsável, logo surge um factóide, um discurso de palanque, a oportunidade de “inauguração” de uma obra pensada e uma classe de nível superior a ser depreciada, além da propaganda paga para as próprias emissoras, acrescida de declarações sobre os milhões de reais a serem investidos no programa XYZ, que vai solucionar o problema. Vide a epidemia de dengue e gripe suína (A, H1N1).

Os médicos já foram enquadrados. Quem não se lembra? Considerados culpados pelo caótico sistema de saúde nacional: “os médicos não aceitam ou cobram caro para trabalhar no interior e nas periferias”; “é fácil ser médico na Av. Paulista”. Ainda criticou o Conselho Federal de Medicina, por conta do não reconhecimento dos diplomas dos médicos formados em Cuba. Lembrou, como consta, jocosamente (como das multas por infração eleitoral), do médico que amputou o seu dedo mínimo.

A elite teve a sua vez: “se interessa mais por Paris e Roma do que pelo próprio país”. Imagine, ele que pouca viaja!

Sobre outros presidentes: “O presidente fica em Brasília e, de vez em quando, vai a seu Estado natal, ao Rio de Janeiro, a alguma capital. Se um presidente não se dispuser a andar pelo país, ele termina o mandato sem conhecer a cozinha da sua casa”.

A Justiça foi chamada de classista, repetindo a conversa de botequim e de apresentador de programas de crimes do quotidiano, de que no Brasil, só vai preso pobre e negro. Ou seja, melhor tratamento às pessoas das classes mais altas; um confronto a mais. A correção depende de leis e o governo diz o quer ao Congresso. Não evolui, por quê?

Já no bojo da campanha pró Dilma, Lula disse que não pretendia criticar o poder Judiciário no discurso que fez durante cerimônia de apoio do PC do B à candidata do PT à Presidência, quando tinha afirmado: “Nós não podemos ficar subordinados a cada eleição a que um juiz diga o que a gente pode ou não pode fazer.”

De outra feita atacou o Judiciário durante discurso de lançamento de obras do PAC; disse que “seria bom que o Judiciário metesse o nariz apenas nas coisas dele”.

Em visita ao município de Piraí/RJ criticou os empresários da indústria de informática pelos elevados preços dos computadores, ou seja, que os equipamentos tenham preços reduzidos para que possa haver a internet nas escolas públicas. Mais uma: empresários versus estudante; transmitindo a idéia de que os empresários são os responsáveis pelo atraso.

Os usineiros sob os fogos de Lula quando do reajuste do etanol, aumento na produção de açúcar em detrimento do combustível: “Quando o álcool está com bom preço, vocês são empresários energéticos, e quando o açúcar fica com bons preços, viram empresários da agricultura.” Cabe ao governo compatibilizar as necessidades internas e a exportação, mesmo não sendo o estado máximo.

Alguma responsabilidade que venha a ser atribuída ao governo, na pessoa do Presidente, serve de chacota nos palanques, isso quando da segunda multa por propaganda antecipada. Em tom brincalhão advertiu que repartiria com os presentes a multa a ele imputada.

Agora já são cinco multas, no mesmo nível. Até quando?

Não se considera como agravante a reincidência, multas mais elevadas, nem se põe um ponto final ao desmando.

Por essas e outras que se dá uma banana àqueles não alinhados.

Não é um governo que prega a UNIÃO, pois é especialista em fomentar as dissensões.

A proposta do Plano Nacional de Direitos Humanos, versão 3, é bem clara. Um título que não condiz com o conteúdo.

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