Cultura inútil

…nós não construímos o futuro pensando no passado… – Nelson Jobim.


Ernesto Caruso
, 12/12/2010

As palavras pronunciadas pelo ministro Jobim da Defesa geraram muita polêmica pela internet, ataques e defesas a partir da interpretação dada pelo jornalista Claudio Humberto e o discurso oficial.

O jornalista vai no âmago da questão e a palavra oficial é tão branda como o sugar do morcego hematófago ou da fêmea do mosquito que estufa o peito e “grita” no ouvido, mas suga o sangue do distraído, que vai sentir muito mais tarde, e a picada ínfima se transforma em chaga profunda.

Escreve Cláudio Humberto: “Nelson Jobim (Defesa) provocou mal-estar sábado, na Academia Militar das Agulhas Negras, durante a formatura da “Turma General Emílio Garrastazu Médici”, ao criticar indiretamente o patrono – elogiado antes pelo comandante do Exército pela “honradez, dignidade e patriotismo”. No discurso, que aliás não estava previsto, Jobim deixou claro que não aprovou a escolha do patrono, dizendo que o Exército “deve esquecer o passado”. Os generais nem o aplaudiram. E o convidado Roberto Médici, filho do ex-presidente, desceu do palanque e foi embora.”  (07/12/2010).

Segundo divulgado nas páginas eletrônicas do Ministério da Defesa, Jobim assim se pronunciou: “Lembrando que nós não construímos o futuro pensando no passado; e não nos preparamos para o futuro com as mesmas estruturas do passado”.

Ora, esse pensamento é o mesmo que queimar os compêndios de História, o mesmo que negar o desenvolvimento na área de ciência e tecnologia, o mesmo que não adequar a doutrina aos meios disponíveis.

Pelo contrário, não se pode desprezar o passado, pois é o alicerce para a construção do presente e visão prospectiva do que se pretende e se deve legar às gerações seguintes. Uma lição com capa de vestal, mas vinda de quem a pronunciou, parece que o jornalista a retratou no cerne, além do que não se põem dúvida na competência e no grau de conhecimento do ministro o que reforça o ponto de vista do colunista.

Uma lição enganosa de pouca duração, de improviso, que não resiste a quatro anos de verdade na formação universitária militar mais um ano ao completar o secundário na Escola Preparatória, sem comparar com o meio altamente permeável por todo o território nacional de dezenas de milhares de conscritos, mentes jovens que precisam ser esclarecidas e podem multiplicar conhecimentos com familiares e amigos. Lições escritas com o sangue dos verdadeiros heróis.

Prossegue o ministro: “Houve equívocos e erros nos processos e conflitos internacionais. Por exemplo, na Segunda Guerra Mundial, quando generais franceses prepararam-se para a guerra do passado e para o conflito do passado e encontraram, na Segunda Guerra Mundial, o conflito do futuro.”

Quem faz assim, perde a guerra e isso não se ensina nas escolas militares, apesar do esforço inaudito dos seus comandantes em tirar leite de pedra para a formação de chefes e líderes que irão preparar combatentes nas mais longínquas fronteiras. As dificuldades presentes no dia a dia nos quartéis, como até alimentação falta de vez em quando, estão longe dos discursos dos políticos que de peito estufado falam de teres e haveres e novas perspectivas.

Continua a lição: “Nenhum soldado legitima-se se não tiver atrás de si a legislação do Direito e da Moral.” Vai fundo: “O permanente zelo pela imagem da instituição a que pertencem também é um dos apanágios dessa necessidade.” Credibilidade nas Forças Armadas que independem dessas observações do ex-deputado constituinte e ex-ministro do STF. Afirma categoricamente, como todos devem entender o que seja um Estado Democrático: “Também é importante considerar a claríssima defesa do Estado Democrático de Direito…” Mas é tíbia quando conclui o período com intuito de menoscabar:  “… e a subordinação do poder militar à autoridade civil democrática instituída no país.” As Forças Armadas são instituições nacionais sob a autoridade suprema do Presidente da República e destinam-se à defesa da Pátria e à garantia dos Poderes Constitucionais, cuja concepção do Estado e democracia devem ser respeitadas pelas autoridades constituídas.

As Forças Armadas não servem a governos, muito menos àqueles que descumprem os mandamentos constitucionais. Ordens absurdas e fora dos mandamentos legais não podem e não devem ser cumpridas. Subordinação não se confunde com subserviência. E o compromisso com as estruturas democráticas que todos a tenham, não só os cadetes, declarados aspirantes a oficial da Turma General Emílio Garrastazu Médici, mas as autoridades, principalmente, diante do exemplo que devem dar de probidade, ética, conduta ilibada, e compromisso com a Nação.

Mestres civis e militares com práticas democráticas, que entendam que a sociedade é uma só, integrada por brasileiros indistintamente e estrangeiros que nesta terra se fixam, serão muito bem vindos aos estabelecimentos de ensino militar, que continuarão a ensinar a verdade histórica que ilustra a participação e intervenção das Forças Armadas quando foram necessárias, particularmente na manutenção do território e em todas as tentativas assassinas de implantação do comunismo que deixou um rastro de sangue por onde vicejou.

Interessante observar que as páginas do MD destacam a presença do ministro na AMAN assim, “Na AMAN, Jobim recomenda aos generais de 2050 “cabeça aberta” para o futuro”, como se os de ontem e de hoje não a tivessem, enquanto o Cmt do EB usara a expressão “mente aberta para o aprendizado”. Uma diferença também chama a atenção. O MD começa o discurso exclamando “Aspirantes da turma de 2010 !” enquanto o Cmt do EB, “Aspirante da Turma General Emílio Garrastazu Médici” e destaca a figura do homenageado “A cada passo, honrará a memória do Patrono da sua Turma, o General Emílio Garrastazu Médici, cujo nome sinaliza, acima de qualquer interesse particular, dignidade, honradez, profissionalismo e amor à Pátria Brasileira.”, que não foi vaiado nem no Maracanã.

Há que se ressaltar que, gostando ou não, o MD falou o que pensa e o Cmt do EB também, registrado nos respectivos portais, o que nos transporta ao lançamento do livro “Direito à Memória e à Verdade”, quando esse mesmo ministro ameaçou que nenhum militar vai reagir e SE REAGIR, VAI TER A RESPOSTA!!!

Os comandantes militares se pronunciaram através nota. Ponto e basta.

Assim, deve ser quando os problemas nacionais envolvem toda a sociedade, e esta precisa auscultar o segmento militar, pois dela é parte importante e o mantém em alto grau de credibilidade.

Não se pode ter ouvido de mercador nas ofensas às FA, como tentaram fazer no lançamento do livro ou quando as efetivaram no Palanque da Central do Brasil e no Automóvel Clube em 1964.

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