Os médicos brasileiros

“Não há nada mais perigoso para uma ciência ainda em fase de investigação do que ser capturada pela sociedade elegante.”

Stefan Zweig

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Waldo Luís Viana*

Todos sabem, de há muito, o nojo visceral que devoto à sociedade constituída pelo Lula Rose Diamante da Silva e a nossa atual presidenta incompetenta. Mais de dez anos de completo atraso cultural e de recrudescimento da inflação e percalços megaestruturais dos quais já cansamos de denunciar. Até dos generais-cagões falamos, que deixam de ter diarréia ao entrar para a reserva e recuperam o cérebro…

Um país sem qualquer prêmio Nobel, comandado por um analfabeto que ainda não foi apanhado pela Polícia Federal. Pobre Polícia! Diziam que éramos loucos, mas como disse o Chico Buarque “os poetas são como cegos que sabem ver na escuridão”… Só ele, aliás grande poeta de amor a Cuba que só sabe viver em Paris, não viu nada… Deve ser mesmo o entorpecimento do vinho francês…

Ao mesmo tempo, enquanto megaestádios (hoje chamados “arenas” pelas comanditas, como se estivéssemos retrocedido aos tempos dos imperadores sanguinários romanos) são construídos para satisfazer os apetites dos empreiteiros, que engordam as digestões e cuecas pré-eleitorais do PT, nos caixas dois internos e caixas três externos – vão desenhando o quadro da reeleição da presidenta incompetenta através dos atrasados grotões do país.

Infelizmente, porém, apesar do fel que escorre entre meus dedos, tenho que elogiar, desta vez, o governo. Ele teve a ideia genial de chamar médicos estrangeiros para cuidar dos municípios não dotados de profissionais de saúde. Pensamento genial, sociológico, socialista, metafísico, gnosiológico – sei lá mais o quê – plotado de uma mente militante, que inventou o ovo de Colombo.

Nossa classe médica, elegante e burguesa, que queria ficar nas regiões ricas do país, acordou assustada, porque finalmente vai ter concorrência. Terá de ver gente chegando ás regiões inóspitas, onde jamais quis ficar. Afinal, enfrentar impaludismo, doença de Chagas, malária e os mosquitões de Rondônia, ora, pra quê, se a classe média  está toda aqui no sul-sudeste, pronta pra ser “atendida” e roubada.

O SUS, essa fantasmagoria de assistência constitucional, que não atende a quase ninguém, gere hospitais que são masmorras medievais, com doentes no chão pedindo ajuda a médicos que tem que se fantasiar de homens comuns para não serem rasgados por pacientes, deitados no chão, clamando por socorro, como no inferno de Dante.

– “Deixai aqui toda a esperança…” – clamava com laivos de sabedoria o inferno do mestre italiano e eis que em nossa terra o imperativo constitucional é confirmado pelos políticos e pela classe médica.

Os políticos são o que são, já o sabemos de há muito, mas a classe médica jamais moveu os lábios. Os médicos, burgueses, acanalhados por dupla e tripla jornada compensadora, jamais moveram os lábios para criticar o governo. Qualquer governo. O povo, afinal, morre mesmo, e é só aprender a assinar os atestados de óbito que os livram de quaisquer responsabilidade moral. São apenas o que eles chamam, em linguagem técnica, “êxitos letais”…

Finalmente, porém, surgiu um governo que resolveu lhes fazer concorrência. Sabe, aquela obscenidade de depender de exames, feitos por gigantescas firmas comandadas por engenheiros eletrônicos e intensa tecnologia, olhando papéis com dados e sem nem olhar a cara do paciente – eis que essa realidade poderá começar a mudar com a entrada de gente que pensará, talvez, a medicina de outro modo.

Sabe lá se esses médicos cubanos, venezuelanos, soviéticos ou sei lá de onde vierem, irão fazer a velha anamnese nos pacientes?

Sou do tempo em que o médico me mandava tirar a camisa, botava um lenço nas minhas costas e me escutava de ouvido. Há quarenta anos isso não mais acontece, porque vou ao médico com um calhamaço de papéis, cheios de índices, ele olha pra minha cara, achando cansativa a minha “estorinha” e me prescreve um, dois ou três remédios, recomendando, um pouco cansativo, que sejam tomados antes ou depois do jantar. E nada mais.

Enquanto isso, a mídia insistentemente prescreve o conselho: procure o médico; não se auto-medique. Ora o povão não tem dinheiro pra comprar arroz e feijão e vai procurar um médico do SUS, cuja consulta será marcada seis meses depois? Jamais! O seu conselho é com o balconista da farmácia e só em último caso irá procurar um médico às quatro ou cinco horas da manhã, que o atenderá com desdém se o camarada tiver uma senha…

Pois é essa classe médica, canalha, que jurou o tal “juramento hipocrático” que está agora com raiva do governo, porque ele está chamando a concorrência de fora para tampar seus buracos e mostrar suas chagas.

Nossos médicos, que não têm equipamentos adequados, gazes, esparadrapos e seringas, jamais deram sobre isso com a língua nos dentes. São burgueses como nossos políticos e artistas da Rede Globo. Agora fazem manifestações por salários, condições clínicas adequadas, equipamentos, mas não se lembram dos mortos que estiveram a seus pés, mas não esmigalharam os seus frios e entorpecidos corações.

Engraçada a dialética de um desgraçado governo como o da presidenta incompetenta levantar uma classe corporativa, burguesa, acanalhada pelo desejo de riqueza, antihipocrática, quebradora de juramento, vir agora a público clamar por seus direitos – como se o povo brasileiro não fosse tratado como os doentes crônicos da época de Jesus.

Quantos brasileiros sem remédios, sem apoio, idosos, molestados, alquebrados por falta de trato foram esquecidos por esses médicos que agora estão com medo dos que vêm de fora – talvez quem sabe com soluções novas, menos aduncas e silenciosas dos velhos medalhões e canalhas de nossas academias de medicina que com belos discursos passam o diapasão uns para os outros, esquecendo da mórbida realidade das masmorras da Nação. Aliás, quantos discursos hipócritas, como ghost-writer, fui contratado para fazer para esse bando de calhordas…

O PT, com a sua camarilha de ladrões golpistas, conseguiu –  sem querer – acordar, outro bando corporativo eternamente explorador do pobre e sofrido povo brasileiro. Estou ficando velho e tenho pavor de ficar na mão desses canalhas exploradores. Vou morrer de câncer, tomando homeopatia…

Médico bonito e rico só é bom de terno e gravata, com jaleco branco impoluto por cima, dando boletim sobre o câncer de algum político famoso. Espero até ouvi-los em breve…

“Que viengan los médicos pobres e “sus” soluciones también…”

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*Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta, ghost-writer e já escreveu em mais de trinta especialidades médicas. Acredite quem quiser!

Teresópolis, 18/07/2013.

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