PT versus FHC ou como se prepara uma vitória eleitoral

Brilhante artigo do Prof. Waldo Luís Viana.

Não há moralidade na política, apenas conveniência.
Um canalha pode ser útil para nós, porque é um canalha.”
Lênin

Waldo Luiz VianaWaldo Luiz Viana

Por Waldo Luís Viana

“No início, criou FHC o céu e a terra brasileira. A terra era informe e vazia e FHC produziu as privatizações. Depois criou os brasileiros, mas não queria que comessem da árvore do conhecimento, porque poderiam se revoltar. Aí surgiu Lula, o salvador, que, introduzindo o bolsa-família, condenou as privatizações e, recusando a herança maldita, salvou o povo brasileiro da fome e da miséria. O povo eleito, de tão agradecido, elegeu a mãe do PAC, para continuar a obra do salvador, esperando fundar um novo paraíso na terra…”

Essa corruptela do gênesis bíblico serve de modo canhestro para justificar os passos do partido que desfruta do poder. Ele fabrica um falso maniqueísmo, colocando o presidente Fernando Henrique Cardoso como o termo de comparação para ver perdoados todos os seus “malfeitos” e desvios. Ou seja, posso cometer todos os pecados, visto que o antecessor fora uma tragédia…

content_id2Os socialistas de mercado precisam de uma foto em preto e branco da história. Creem que, pondo FHC na berlinda, seu sucessor será sempre visto como salvador supremo. Um truque velho de propaganda esfarrapada, produzindo um (falso) inimigo – logo o menchevique que entregou-lhe o poder de forma plena –, e não contando,  de propósito,  que o Brasil teve antes grandes estadistas, que elevaram o país à oitava posição econômica no mundo.

Esse truque cevado e surrado, porém, não pega mais, de tão explícito, porque o ex-presidente FHC, com todas as suas vacilações, formou um ambiente benéfico para o êxito inicial do governo petista, que se aproveitou das políticas compensatórias do antecessor, bem como da estabilidade fiscal e da moeda.

1382023_624983670877758_1410992099_nSe o mensalão (2005-2006) não tivesse sido denunciado, entretanto, o sucessor de FHC pairaria como um deus entre os contemporâneos.  Mas os escândalos sucessivos dos oito anos de gestão de Lula serviram para dividir o povo brasileiro e fazer com que a imagem denegrida do carismático presidente fosse vítima de suspeições e denúncias.

Eleitoralmente, o PT tentará, em 2014, os mesmos truques do passado, divulgando mentiras que serão espalhadas como se fossem verdades. Primeiro, escolherão o adversário contra o qual bater, naturalmente será o novo candidato do PSDB  –  esse irmão quase gêmeo que lhe faz oposição de faz-de-conta com punhos de renda.

Tal maniqueísmo eleitoral seria na medida para qualquer candidato petista, vez que lhe sobrariam facilidades para o discurso demagógico e oportunista. O candidato à reeleição – a atual “presidenta” – discorrerá sobre o mensalão tucano, o escândalo das propinas da multinacional francesa nos governos paulistas, a insegurança em São Paulo e Minas e o velho expediente de condenação às “privatarias” do governo FHC.

Nesse sentido, já estão comparando a promessa do pré-sal a uma realidade juramentada. Como se tudo tivesse acontecido de bom modo, apesar de um leilão fraudulento denunciado até pelos esquerdistas da Petrobrás, e o país nadasse em prosperidade. Outra mentira vendida como verdade para os incautos…

Quantos dossiês e escândalos artificiais serão produzidos perto das eleições, patrocinados por aliados bem pagos e manipuladores, capazes de todos os expedientes imaginários?

content_id4O Estado aparelhado serve como ponta de lança para a máquina eleitoral, azeitada com dinheiro vindo de fora e também com o auxílio luxuoso de empresários agradecidos e obsequiosos, que precisam permanecer pendurados na máquina pública para prosperar.

A realidade da campanha, que está nas ruas, é pressuposto inerente ao marketing petista. A reeleição parece garantida pela decadência dos grotões distantes, o analfabetismo permanente, os 67% da população que só têm curso primário e os 14 milhões de famílias beneficiadas pelo bolsa-família – boquinha considerada fortuna preguiçosa para os que nada possuem e os eternos bebedores de cachaça.

O PT apostará tudo em troca de seu eleitoralismo permanente. Não tem ideologia, doutrina ou coisa que o valha, aliando-se à podre elite patrimonialista que domina o país há quinhentos anos. Distribuirá os ministérios e estatais necessários para a conveniência do pleito, tencionando não perder o companheirismo do PMDB, que sempre assume o poder sem necessitar de atingir a presidência. Aliás, os oligarcas regionais desejam assim porque o regime presidencial é desgastante e eles preferem o encosto material e espiritual,  sugando as delícias da exploração onipotente de cargos e sinecuras estatais.

Do outro lado fica o povo, atônito, vendo que os pilares de nossa democracia jamais serão mexidos. São eles, o voto obrigatório e o foro privilegiado. Para nós o dever de votar nos mesmos; para eles o prazer da impunidade, mediante a manipulação de um legislativo de ladrões e de um judiciário acovardado.

Os partidos, centros inestimáveis de venda de virtudes públicas, continuarão a fazer os festivos negócios nas coligações, dividindo o butim entre amigos e os minutos preciosos do horário eleitoral.

E o governo tentará de tudo para que sua candidata, que faz um governo medíocre e – a nosso ver – nefasto, possa se reeleger, dando continuidade ao processo de eternização dos objetivos do Foro de São Paulo.

FHC, com os resultados de seu governo e seus apoiadores, servirá mais uma vez aos objetivos do PT. Será um Judas de sábado de aleluia, sintetizando o antigo mecanismo comparativo de escolher um adversário fraco e criticável para malhar à vontade, conseguindo superá-lo finalmente nas eleições. O truque é o de sempre, com algumas variações feiticeiras…

Foi por isso que o PT tremeu ao ver o surgimento de uma terceira candidatura, porque  qualquer outra alternativa, surgida no abismo,  atrapalharia a luta dual, tão desejada. Afinal, num país sem oposição, ou com oposição liquidada, onde só a esquerda é boazinha, os gênios petistas conseguiriam reinar para sempre, honrando de lambuja o formalismo eleitoral.

Esse é o único programa visível que remanesce do ideário governamental, refletido em seu marketing. Tudo para reeleger a candidata: aos diabos todos os escrúpulos!

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*Waldo Luís Viana é escritor, economista e poeta. E não vê saída…

Teresópolis, 29 de outubro de 2013.

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