Editorial do Jornal O Estado de Minas, edição de 05 de abril de 1964.
Se há um setor que não está corrompido no Brasil, graças a Deus, é o das Forças Armadas, incluídos o Exército, a Aeronáutica, a Marinha. Em Minas, devemos juntar a esse bloco de homens dignos e patriotas a Polícia Militar, outra corporação que tem dado os mais admiráveis exemplos de amor à nossa terra.
Feliz a nação que pode contar com corporações militares de tão altos índices cívicos. A todo momento, essas corporações, comandadas por oficiais formados na melhor escola, a escola do patriotismo, da decência da pureza de intenções e propósitos, nos oferecem o testemunho de sua identificação com os melhores ideais de nossa gente. O que eles têm no coração é um Brasil grande, progressista, respeitado, unido de Norte a Sul, de Leste a Oeste, trabalhando livremente num clima de ordem e paz. Os nossos militares, quando mais fundo e mais grosso é o mar de lama, estão recolhidos às suas casernas austeras, submetidos a um regime de vencimentos incompatíveis com as exigências da vida moderna.
Hoje em dia, não há quem queira ser mais oficial do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, porque não se recebem nessas três armas soldos que permitam uma existência tranqüila. No entanto, os militares tudo suportam estoicamente, assistindo diante deles o espetáculo da mais deslavada corrupção, provocada pelo poder civil, pela baixa politicalha, pelo eleitoralismo grosseiro.
Bastaria dizer que hoje um procurador de um dos institutos de previdência, logo no primeiro mês de sua nomeação, sem ter serviço, indo à repartição meia hora por dia, quando vai, recebe mais do que um general, que se submeteu a uma longa carreira, sujeito a mudanças amiudadas de residência, sendo obrigado a matricular os seus filhos cada ano em um colégio diferente, e com um regime de trabalho de dez horas por dia.
É impossível, porém, enumerar aqui todas as injustiças de que são vítimas os militares. E não se queixam, não se desesperam, por amor ao Brasil. Pois bem: esses patriotas, que não contribuem para o abastardamento dos costumes públicos em nosso país, de quando em vez são forçados a corrigir os erros da politicalha, tomando o poder dos corruptos, dos caudilhos, dos extremistas de baixa extração, restituindo-o limpo e puro, aos civis.
Nunca advogaram em causa própria, ou melhor, nunca tomaram o poder em benefício próprio. Agem quando é preciso, a fim de restituir a tranqüilidade e a paz ao seio da família brasileira, mas essa tolerância com os civis, que não estão sabendo ser dignos do poder, tem um limite.
As imposições do patriotismo, que é tão aceso no meio militar, poderão levá-los a dissolver as assembléias que insistem em permanecer dando cobertura a políticos corruptos e aventureiros, a comunistas interessados em abrir aqui uma porta ao fidelismo cubano.
O povo também está perdendo a fé nas soluções civis. Vê a volta das raposas de baixa politicalha com espanto e nojo, porque compreende que a agitação vai continuar, a corrupção idem, o assalto aos cofres públicos, a compra de fazendas e apartamentos com dinheiro roubado à nação.
O comando revolucionário não aceitará agora isto. Quer o expurgo, a higienização do meio político, a imobilização da “gang” que infelicitava o Brasil. Os corruptos, onde estiverem, terão que pagar por seus crimes. Se estiverem no Parlamento alguns deles, terão que ver cassados os seus mandatos que não souberam honrar, traindo ali a democracia.
Se estiverem os totalitários vermelhos no mais alto tribunal de justiça do país, há que impor-lhes as sanções da própria lei que eles impõem a outros. Sem esse expurgo, feito sem violência mas dentro da legislação de defesa do povo e do regime, não estará completa a revolução.
Se tolerarem qualquer transigência com os objetivos da revolução, os militares serão novamente traídos pela parcela dos civis corruptos e indignos. Homens com a alta dignidade, a compostura cívica, a bravura pessoal, a vida limpa e exemplar de um General Carlos Luís Guedes – que é um militar admirável – não podem permitir que se faça a reconstrução do Brasil em bases falsas. Essa reconstrução tem que ser, antes de tudo, moral. Foi por isso que todos nós, que estivemos na luta arrostando a empáfia dos baderneiros, sujeitos diariamente a assaltos e golpes dos extremistas, fizemos uma revolução. Os militares não deverão ensarilhar suas armas, antes que emudeçam as vozes da corrupção e da traição à pátria. Cometerão um erro, embora de boa-fé, se aceitarem o poder civil, que está aí organizado para assumir as responsabilidades da direção do país. Terão que impor um saneamento, antes de voltar aos quartéis.
Texto recebido de Ricardo Bergamini