02/03/2015 // 02h00
A Joaquim Levy não basta o papel de mero capataz de um remendo emergencial nas contas do governo. O ministro, é visível, entende que a recuperação da economia depende de sua credibilidade, e sua credibilidade depende de demonstrar o fim da era de previsões irrealistas, números maquiados e pacotes de muito apelo publicitário e pouca solidez técnica.
O abandono da embromação econômica não se dará sem atritos. Em um pito público, Dilma Rousseff chamou de “infeliz” a declaração do titular da Fazenda segundo a qual o programa de desoneração tributária lançado no primeiro mandato da presidente é “grosseiro”.
Quem acompanhou a entrevista de Levy notou que sua preocupação, ao anunciar uma drástica revisão da iniciativa, era fazer crer que, agora, as decisões estão sendo tomadas com critério e conhecimento de causa: tabelas e gráficos apresentados descreveram em minúcias os custos e o impacto das medidas.
Mesmo que o vocabulário empregado tivesse sido mais diplomático, o recado era claro. Muitos rapapés ao tratar da obra do antecessor, aliás, podem dar a impressão de que o ajuste em curso não passa de um recuo inevitável e temporário.
Em seu discurso de posse, Levy atacou o patrimonialismo –a mistura entre interesses públicos e privados que pode descrever grande parte do intervencionismo petista na economia. De lá para cá, chamou de anacrônicas as regras do seguro-desemprego e previu uma retração da economia nacional, tendo de consertar depois as afirmações.
O ministro pode começar a escolher as palavras para anunciar que o PAC (o Programa de Aceleração do Crescimento, de maternidade atribuída a Dilma) acabou. Suas obras de infraestrutura, indicou-se na semana passada, perderam o privilégio de ficar a salvo do corte de despesas – que, espuma marqueteira à parte, era a essência do programa.