Folha de S.Paulo
Bernardo Mello Franco
Folha de S.Paulo 16/04/2015 – 10h52
BRASÍLIA – Quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita. A frase do publicitário Carlito Maia (1924-2002), fundador do PT, foi lembrada ontem no Congresso. Resumia o desalento de um deputado com a prisão de João Vaccari, acusado de abastecer campanhas com propinas do petrolão.
Todo partido precisa juntar dinheiro para disputar eleições. O desafio é não permitir que a arrecadação se torne um fim em si, acima das ideias que motivaram a criação da sigla. A prisão do segundo tesoureiro em um ano e meio sugere que o PT esqueceu a lição de Carlito, inventor dos slogans “oPTei” e “Lula Lá”.
O petismo pode ter se transformado em outra coisa, mas não avisou os eleitores. Continua a pedir votos com o discurso da época em que financiava campanhas com a venda de broches de estrelinha. Não cola mais.
Vaccari virou uma espécie de Forrest Gump do petrolão. A cada vez que um réu decide falar, ele volta a aparecer no escândalo. O PT sabia que sua prisão era questão de tempo, mas insistiu em mantê-lo no cargo.
Ontem persistiu no erro ao tratá-lo como vítima. Seu líder na Câmara, que já acusou a CIA de tramar os protestos contra o governo, disse que a detenção foi “política”. Com defensores assim, será duro sair da lona.
A ordem agora é tentar isolar a ação de Vaccari das campanhas de Dilma Rousseff. É uma tese de difícil sustentação. No ano passado, mais de R$ 30 milhões do caixa presidencial saíram da direção nacional da sigla. Desse valor, R$ 4,8 milhões foram repassados por Andrade Gutierrez, Odebrecht e Braskem, empresas citadas na Lava Jato.
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Em campanha contra o procurador-geral da República, o deputado Eduardo Cunha emplacou seu advogado Gustavo do Vale Rocha no CNMP, que fiscaliza a atuação do Ministério Público. Quem se interessa pela independência do órgão precisará fiscalizar o novo conselheiro.
Bernardo Mello Franco foi correspondente em Londres, repórter de “Poder”, da Sucursal do Rio e editor interino da coluna Painel. Escreve domingos, terças, quartas, quintas e sextas-feiras