Jingle, discurso e fogos

Os últimos deslocamentos e aparições públicas do presidente Lula foram cuidadosamente preparados num clima de campanha política. Sem qualquer pudor ético ou legal, o presidente da República antecipou a campanha eleitoral. O aparato oficial está mobilizado a serviço dessa deliberada estratégia.

Pouco importa se há obra a ser inaugurada. As faixas descerradas celebram a presença do 1º mandatário e sua numerosa comitiva. O mote do discurso é de cunho eleitoreiro, sem qualquer compromisso com a gestão administrativa responsável. Os atos oficiais de governo são confundidos com campanha eleitoral antecipada.

Os desdobramentos da crise econômica internacional no plano interno não são capazes de sensibilizar o alto comando da nação. As prioridades e ações são elencadas sob uma ótica de palanque. Diante de qualquer disfunção gerencial ou ameaça de qualquer natureza, um infindável arsenal de disfarces é acionado para transferir responsabilidades ou nominar outros culpados.

A gravidade de qualquer cenário é imediatamente “desconstruída” e, como num passe de mágica, o país é blindado de eventuais infortúnios.  Foi assim nas marolas da crise econômica mundial e se repete nas declarações sobre o surto da gripe suína.

A palavra de ordem é transmitir à população que o governo que aí está é capaz de driblar toda e qualquer adversidade. Ao primeiro sinal de alerta ou perigo muda-se o discurso e o figurino, e as contradições se sucedem como se fosse possível escamotear a verdade por tempo ilimitado.

Um projeto de poder foi delineado e sofreu interrupção com a saída das principais figuras do 1º escalão na esteira dos escândalos do mensalão. Os passos seguintes, redimensionados, desembocam na campanha presidencial fora do calendário, capitaneada pelo presidente Lula e um coro de ministros. O objetivo escancarado é eleger seu sucessor a qualquer preço.

Nas andanças recentes do presidente Lula pela capital do Amazonas, os alto-falantes do Terminal Hidroviário São Raimundo, ao invés de anunciarem o horário das embarcações, ecoaram estribilho do jingle de campanha do petista, de 2002.

Ninguém pode defender o isolamento do chefe do Executivo nem vetar sua presença em solenidades no imenso território nacional. É lícito e desejável que o presidente da República prestigie e se faça presente em eventos aqui e lá fora. O que não pode ser sacramentado é a postura de caravanas políticas das viagens presidenciais.

O custo dos deslocamentos de um chefe de Estado é alto. Um destacamento precursor mobiliza inúmeros funcionários de Estado. É inadmissível canalizar todos esses instrumentos em prol de uma candidatura.

A pergunta que fazemos: haveria ligação entre os périplos presidenciais revestidos de caráter eleitoral e o vertiginoso aumento de gastos com os cartões corporativos?

Passando em revista aos referidos gastos constatamos que, no primeiro trimestre de 2009, os saques do governo feitos em dinheiro com cartão corporativo aumentaram 100% em relação a 2008, passando de R$ 2.195.939,00 para R$ 4.407.625,00. O cálculo total de gastos governamentais com cartão no trimestre registrou aumento de 142% e chegou a R$ 11.898.160,00, contra R$ 4.910.363,00 no mesmo período do ano passado.

Essa escalada de gastos sob o manto do sigilo em nome da segurança nacional transforma o cartão corporativo em mais uma caixa-preta. A atmosfera de campanha eleitoral fora de época não condiz com o momento que atravessamos.

Senador Alvaro Dias – 1º vice- líder do PSDB

Assessoria de Comunicação – Gabinete do Senador Alvaro Dias
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