Lula e a poupança: por que Lula está tão bravo com o PPS

Se o sujeito ficar descontente, que vá para os fundos, onde, na prática, estará comprando títulos da dívida pública, ajudando a financiar a farra.

Em quase sete anos de governo, essa é uma das reações mais agressivas de Lula a uma fala da oposição. E notem: parece nem ser algo assim tão grave. Observem que o deputado Raúl Jungmann (PPS-PE) nem fez uma daquelas coisas em que o PT era craque quando oposição: acusar os adversários de praticar ilegalidades.

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Não estou endossando necessariamente a campanha do PPS. Mas parece que Jungmann tocou no ponto nervoso do PT. Sem qualquer ofensa ao PPS — trata-se de um juízo objetivo apenas —, diria que o partido usou com os petistas uma das táticas (só uma) que os petistas sempre usaram com os adversários: dar uma certa simplificada numa questão complexa e transformá-la em slogan político. Lula faz isso até hoje. E notem: seu governo até põe reboco em casa que ainda existe…

Que o governo vai mexer na poupança, ah, isso vai. Quem anunciou que mexeria foi o próprio Lula — e nem estava no Brasil quando o fez. Que a mudança será boa para o povo, bem, isso é conversa mole. Quando menos, a “proteção” ao pequeno poupador será garantida com a “punição” ao grande poupador — talvez pagando-se juros menos a partir de determinado limite de depósito: se o sujeito ficar descontente, que vá para os fundos, onde, na prática, estará comprando títulos da dívida pública, ajudando a financiar a farra.

O PPS afirma que o governo vai mexer na poupança, como fez o Collor? Sim. Mas não diz que as medidas serão as mesmas. A informação é outra: aquele governo meteu a mão nas cadernetas, esse vai fazer o mesmo. É impreciso? É, sim. Uma imprecisão que o PT conhece muito bem. O PPS ainda não chegou à sofisticação do adversário, que é aprender a mentir. Não foram Lula e o PT que disseram, em 2006, que, se eleito, Alckmin privatizaria a Petrobrás e o Banco do Brasil? Lula poderia dizer: “Eu acho isso de uma irresponsabilidade muito grande”…

O PT realmente não suporta uma oposição “aética”. Ética, para o petismo, é tudo aquilo que colabora para o fortalecimento do PT. E, como era o esperado, eles querem uma “oposição ética”.

Mas diga aí, Lula: vai haver mexida na poupança ou não vai? Quando houver, a remuneração será maior ou menor? Se a intenção é empurrar os depositantes para os fundos, então ela será necessariamente menor. E, se for menor, Jungmann está dizendo essencialmente a verdade, embora faça um discurso com viés político.

Ocorre que o PT odeia quando os outros fazem política.

Por Reinaldo Azevedo

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