Guilherme Balza
Do UOL Notícias
Em São Paulo
O advogado da família Yared, Elias Mattar Assad, solicitou ao Ministério Público que cobre esclarecimentos do perito do IML (Instituto Médico Legal) acerca dos exames que foram realizados no sangue do deputado estadual Fernando Carli Filho (PSB-PR) para detectar a dosagem alcoólica no momento em que ele se envolveu no acidente que matou Gilmar Rafael Souza Yared, 26, e Carlos Murilo de Almeida, 20, na madrugada do dia 7 de maio, em Curitiba.
De acordo com o laudo do IML (veja a imagem abaixo), foram realizados dois exames no sangue de Carli Filho, ambos finalizados no dia 17 de maio. Em um deles, realizado no sangue coletado pelos próprios peritos da polícia às 2h17 do dia 7 de maio, logo após o acidente, o resultado apontou que havia 7,8 decigramas de álcool por litro de sangue do deputado, quantidade cerca de quatro vezes maior do que o limite permitido para dirigir, que é de 2 decigramas.
No outro exame, realizado na amostra coletada pelo Hospital Evangélico de Curitiba momentos depois que Carli Filho deu entrada, também logo após do acidente, o resultado deu negativo para álcool, segundo o laudo do IML.
Ainda segundo o laudo, o instituto considerou válido somente o exame que deu negativo, alegando que a amostra de sangue coletada pelos peritos da polícia não tinha “finalidade específica para dosagem de álcool etílico e a sua manipulação objetivando obtenção de outros dados pode interferir na análise quantitativa de álcool etílico”.
De acordo com o Hospital Evangélico, a coleta do sangue de Carli Filho foi realizada com o intuito de descobrir o tipo sanguíneo do deputado. Em nota, o hospital afirmou, ainda, que somente no dia 13 de maio recebeu um ofício da Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran) – datado de 12 de maio e assinado pelo delegado Armando Braga de Morais Filho – solicitando o envio do sangue do deputado, que foi armazenado no hemobanco do hospital.
O sangue dos dois exames foi armazenado sob as mesmas condições técnicas e em equipamentos semelhantes, segundo o laudo do IML. “É estranho exames com o sangue coletado praticamente na mesma hora e armazenados sob as mesmas condições apresentarem resultados tão diferentes”, afirma Gabriel Andreucetti, pesquisador do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool.
“Na hora da coleta, no entanto, alguns procedimentos, como a utilização de álcool para limpar o local, podem alterar o conteúdo do sangue a ser examinado”, diz Andreucetti. No Brasil, a responsabilidade pela coleta de sangue para exames alcoólicos e toxicológicos em caso de acidentes e crimes é de responsabilidade dos peritos da Polícia Civil, e não de hospitais.
A reportagem do UOL Notícias procurou o setor de laboratórios do IML, mas o expediente do setor já havia se encerrado e ninguém no instituto podia responder sobre o laudo até o fechamento dessa reportagem.
Investigações
Por ser deputado, Carli Filho tem foro privilegiado e está sendo investigado pelo Poder Judiciário, em um processo presidido por um desembargador do Órgão Especial do Tribunal de Justiça.
O deputado está hospitalizado desde o dia do acidente. No dia 10 de maio foi transferido para o hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde foi submetido a uma cirurgia de correção das fraturas do rosto e do crânio. Na manhã desta sexta-feira, foi transferido da Unidade de Terapia Semi-Intensiva para um quarto normal. Segundo a assessoria de imprensa do hospital, o deputado está consciente, se recupera bem, mas ainda não tem previsão de alta.
O Ministério Público (MP) acompanha o caso e a Polícia Civil também segue nas investigações. Uma reconstituição do acidente estava programada para esta semana, mas até agora não foi realizada.
Segundo o Detran (Departamento Estadual de Trânsito), Carli Filho recebeu 30 multas desde 2003, a maioria por excesso de velocidade. A carteira de motorista do deputado foi suspensa com 130 pontos. O máximo permitido é 20.
LAUDO DO INSTITUTO MÉDICO LEGAL (Clique para ampliar)
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