O anestésico coletivo

A receita para produzir um poderoso anestésico coletivo já foi testada. Bastou juntar os nossos bons indicadores econômicos (em termos comparativos neste momento em que a recessão é a tônica no mundo todo), com as infindáveis saudações positivas advindas do exterior (sobre a solidez do nosso sistema financeiro). Pronto. A auto-estima foi lá para as nuvens.

O efeito dessa fantástica mistura, que por sinal não para de ser festejada em todos os cantos do país, está impedindo uma correta observação das doenças econômicas, muitas já crônicas, que o Brasil contraiu ao longo do tempo. Todas elas, gente, exigem tratamentos urgentes.

Infelizmente, por questões culturais desenvolvidas ao longo do tempo no ambiente sul-americano, o excesso de ufanismo, a inveja e o ciúme passaram a integrar a pobre índole dos latinos. Isto significa que o melhor da festa não é vencer. Basta estar em situação menos ruim em relação aos nossos pares.

Daí porque muita gente bate no peito e morre de alegria ao perceber que vários países estão em dificuldade econômica maior do que a nossa. É neste momento que sobra, principalmente, para o capitalismo, já devidamente rotulado como o grande culpado pela recessão que o mundo está enfrentando. Principalmente os EUA, eleito o maior vilão de todos.

Porém, conforme diz um velho ditado: – Não há mal que sempre dure e não há bem que não se acabe -, em breve, infelizmente, por falta das reformas na Constituição, estaremos todos chorando novamente por aqui. E mais uma vez vamos encontrar o culpado de sempre: o capitalismo e seus seguidores.

E tudo isso porque sempre adiamos a adoção dos mecanismos que melhor poderiam nos proteger contra as intempéries. A meteorologia econômica não precisa mais anunciar que, com ou sem capitalismo, as tempestades virão. É algo inevitável. E que, para melhor enfrentar os ventos fortes e inundações, a ordem é se prevenir.

Um país cujo mote de governo é o assistencialismo, logo adiante vai trancar o desenvolvimento. Se por um curto espaço de tempo os ventos se mostram a favor, pelo efeito do consumo maior do povo mais assistido, no longo prazo o assistencialismo é forte estimulante à vagabundagem.

Se o preço da assistência não é barato, mais caro para nós é o modelo adotado. Com as reformas, o assistencialismo não precisaria existir.

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