Resposta do General Torres de Melo à carta da jornalista

Senhora Jornalista Miriam Leitão.

Li o seu artigo “ENQUANTO ISSO”, com todo cuidado possível. Senti,  em suas linhas, que a senhora procura mostrar que os MILITARES  BRASILEIROS de HOJE são bem diferentes dos MILITARES BRASILEIROS de ONTEM. Penso que esse é o ponto central de sua tese. Para criar  credibilidade nas suas afirmativas, a senhora escreveu: “houve um  tempo em que a interpretação dos militares brasileiros sobre LEI E  ORDEM era rasgar as leis e ferir a ordem. Hoje em dia, eles demonstram  com convicção terem aprendido o que não podem fazer”. Permita-me discordar dessa afirmativa de vez que vejo nela uma injustiça, pois  fiz parte dos MILITARES DE ONTEM e nunca vi os meus camaradas  militares rasgarem leis e ferir a ordem. Nem ontem nem hoje. Vou  demonstrar a minha tese.

No Império, as LEIS E A ORDEM foram rasgadas no Pará, Ceará,  Minas, Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul pelas paixões políticas da  época. AS LEIS E A ORDEM foram restabelecidas pelo Grande Pacificador  do Império, um Militar de Ontem, o Duque de Caxias, que com sua ação  manteve a Unidade Nacional. Não rasgamos as leis nem ferimos a ordem.  Pelo contrário.   Vem a queda do Império e a República. Pelo que sei, e a História  registra, foram políticos que acabaram envolvendo os velhos  Marechais Deodoro e Floriano nas lides políticas. A política dos  governadores criando as oligarquias regionais, não foi obra dos  Militares de Ontem, quando as leis e a ordem foram rasgadas e feridas  pelos donos do Poder, razão maior das revoltas dos tenentes da década  de 20, que sonhavam com um Brasil mais democrático e justo. Os  Militares de Ontem ficaram ao lado da lei e da Ordem. Lembro à nobre  jornalista que foram os civis políticos que fizeram a revolução de 30,  apoiados, contudo, pelos tenentes revolucionários, menos Prestes, que  abraçou o comunismo russo.

Veio a época getuliana, que, aos poucos, foi afastando os tenentes das decisões políticas. A revolução Paulista não foi feita pelos  Militares de Ontem e sim pelos políticos paulistas que não aceitavam a  ditadura de Vargas. Não foram os Militares de Ontem que fizeram a  revolução de 35 (senão alguns, levados por civis a se converterem para  a ideologia vermelha, mas logo combatidos e derrotados pelos  verdadeiros Militares de Ontem); nem fizeram a revolta de 38; nem deram o golpe de 37. Penso que a senhora, dentro de seu espírito de justiça, há de concordar comigo que foram as velhas raposas GETÚLIO – CHICO CAMPOS – OSWALDO ARANHA e os chefetes que estavam nos governos dos Estados, que aceitaram o golpe de 37. Não coloque a culpa nos militares de Ontem.

Veio a segunda guerra mundial. O Nazismo e o Fascismo tentam dominar o mundo. Assistimos ao primeiro choque da hipocrisia da  esquerda. A senhora deve ter lido – pois àquela época não seria  nascida -, sobre o acordo da Alemanha e a URSS para dividirem a pobre  Polônia e os sindicatos comunistas do mundo ocidental, fazendo greves contra os seus próprios países a favor da Alemanha por imposição da URSS e a mudança de posição quando a “Santa URSS” foi invadida por Hitler. O Brasil ficou em cima de muro até que nossos navios (35) foram afundados. Era a guerra, a proteção ao tráfego marítimo, a FEB e seu término. Getúlio – o ditador – caiu e vieram as eleições. As Forças Armadas foram chamadas a intervir para evitar o pior. Foram os políticos que pressionaram os Militares de Ontem para manter a ordem. Não rasgamos as leis nem ferimos a ordem. Chamou-se o Presidente do Supremo Tribunal Federal para, como Presidente, governar a transição. Não se impôs MILITAR algum.

O mundo dividiu-se em dois. O lado democrático, chamado pelos comunistas de imperialistas, e o lado comunista com as suas ditaduras cruéis e seus celebres julgamentos “democráticos”. Prefiro o primeiro e tenho certeza de que a senhora, também. No lado ocidental não se tinham os GULAGs.  Período Dutra (ESCOLHIDO PELOS CIVIS E ELEITO PELO VOTO DIRETO DO POVO) teve seus erros – NUNCA CONTRA A LEI E A ORDEM – e virtudes como toda obra humana. A colocação do Partido Comunista na ilegalidade foi uma obra do Congresso Nacional por inabilidade do próprio Carlos Prestes, que declarou ficar ao lado da URSS e não do Brasil em caso de guerra entre os dois países. Dutra vivia com o “livrinho” (a Constituição) na mão, pois os políticos, nas suas ambições, queriam intervenções em alguns Estados, inclusive em São Paulo. A senhora deve ter lido isso, pois há vasta literatura sobre a História daqueles  idos.

Novo período de Getúlio Vargas. Ele já não tinha mais o vigor dos anos trinta. Quem leu CHATÔ, SAMUEL WEINER (a senhora leu?) sente que os falsos amigos de Getúlio o levaram à desgraça. Os Militares de Ontem não se envolveram no caso, senão para investigar os crimes que vinham sendo cometidos sem apuração pela Polícia; nem rasgaram leis nem feriram a ordem.
Eram os políticos que se digladiavam e procuravam nos colocar como fiéis da balança. O seu suicídio foi uma tragédia nacional, mas não foram os Militares de Ontem os responsáveis pela grande desgraça.

A senhora permita-me ir resumindo para não ficar longo. Veio Juscelino e as Forças Armadas garantiram a posse, mesmo com pequenas divergências. Eram os políticos que queriam rasgar as leis e ferir a ordem e não os Militares de Ontem. Nessa época, há o segundo grande choque da esquerda. No XX Congresso do Partido Comunista da URSS (1956) Kruchov coloca a nu a desgraça do stalinismo na URSS. Os intelectuais esquerdistas ficam sem rumo.

Juscelino chega ao fim e seu candidato perde para o senhor Jânio Quadros. Esperança da vassoura. Desastre total. Não foram os Militares de Ontem que rasgaram a lei e feriram a ordem. Quem declarou vago o cargo de Presidente foi o Congresso Nacional. A Nação ficou ao Deus dará. Ameaça de guerra civil e os políticos tocando fogo no País e as Forças Armadas divididas pelas paixões políticas, disseminadas pelas “vivandeiras dos quartéis” como muito bem alcunhou Castello.

Parlamentarismo, volta ao presidencialismo, aumento das paixões políticas, Prestes indo até Moscou afirmando que já estavam no governo, faltando-lhes apenas o Poder. Os militares calados e o chefe do Estado Maior do Exército (Castello) recomendando que a cadeia de comando deveria ser mantida de qualquer maneira. A indisciplina chegando e incentivada dentro dos Quartéis, não pelos Militares de Ontem e sim pelos políticos de esquerda; e as vivandeiras tentando colocar o Exército na luta política.

Revoltas de Polícias Militares, revolta de sargentos em Brasília, indisciplina na Marinha, comícios da Central e do Automóvel Clube representavam a desordem e o caos contra a LEI e a ORDEM. Lacerda, Ademar de Barros, Magalhães Pinto e outros governadores e políticos (todos civis) incentivavam o povo à revolta. As marchas com Deus, pela Família e pela Liberdade (promovidas por mulheres) representavam a angústia do País. Todo esse clima não foi produzido pelos MILITARES DE ONTEM. Eles, contudo, sempre à escuta dos apelos do povo, pois ELES são o povo em armas, para garantir as Leis e a Ordem. Minas desce. Liderança primeira de civil; era Magalhães Pinto. Era a contra-revolução que se impunha para evitar que o Brasil soçobrasse ao comunismo. O governador Miguel Arraes declarava em Recife, nas vésperas de 31 de março: haverá golpe. Não sabemos se deles ou nosso.

Não vamos ser hipócritas. A senhora, inteligente como é, deve ter lido muitos livros que reportam a luta política daquela época (exemplos: A Revolução Impossível de Luis Mir – Combates nas Trevas de Jacob Gorender – Camaradas de William Waack – etc) sabe que a esquerda desejava implantar uma ditadura de esquerda. Quem afirma é Jacob Gorender. Diz ele no seu livro: “a luta armada começou a ser tentada pela esquerda em 1965 e desfechada em definitiva a partir de 1968”. Não há, em nenhuma parte do mundo, luta armada em que se vão plantar rosas e é por essa razão que GORENDER afirma: “se quiser compreendê-la na perspectiva da sua história, A ESQUERDA deve assumir a violência que praticou”. Violência gera violência.

Castello, Costa e Silva, Médici, Geisel e João Figueiredo, com seus erros e virtudes, desenvolveram o País. Não vamos perder tempo com isso. A senhora é uma economista e sabe bem disso. Veio a ANISTIA. João Figueiredo dando murro na mesa e clamando que era para todos; e Ulisses não desejando que Brizolla, Arraes e outros pudessem tomar parte no novo processo eleitoral, para não lhe disputarem as chances de Poder. João bateu o pé e todos tiveram direito, pois “lugar de Brasileiro é no Brasil”, como dizia… Não esquecer o terceiro choque sofrido pela a esquerda: Queda do Muro de Berlim, que até hoje a nossa esquerda não sabe desse fato histórico…

Diretas já. Sarney, Collor com seu desastre, Itamar, FHC, LULA e chegamos aos dias atuais. Os Militares de Hoje, silentes, que não são responsáveis pelas desgraças que vivemos agora, mas sempre aguardando a voz do Povo. Não houve no passado, nem há, nos dias de hoje, nenhum militar metido em roubo, compra de voto, CPI, dólar em cueca, mensalões ou mensalinhos. Não há nenhum Delúbio, Zé Dirceu, José Genoíno, e que tais. O que já se ouve, o que se escuta é o povo dizendo: SÓ OS MILITARES PODERÃO SALVAR A NAÇÃO. Pois àquela época da “ditadura” era que se era feliz e não se sabia… Mas os Militares de Hoje, como os de Ontem, não querem ditadura, pois são formados  democratas. E irão garantir a Lei e a Ordem, sempre que preciso.  Os militares não irão às ruas sem o povo ao seu lado. OS MILITARES  DE HOJE SÃO OS MESMOS QUE OS MILITARES DE ONTEM. A nossa desgraça é  que políticos de hoje (olhe os PICARETAS do Lula!) – as exceções justificando a regra – são ainda piores do que os de ontem. São sem ética e sem moral, mas também despudorados. E o Brasil sofrendo, não  por conta dos MILITARES, mas de ALGUNS POLÍTICOS – uma corja de canalhas, que rasgam as leis e criam as desordens.

Como sei que a senhora é uma democrata, espero que publique esta carta no local onde a senhora escreve os seus artigos, que os leio  atenta e religiosamente, como se fossem uma Bíblia. Perfeitos no campo  econômico, mas não muito católicos ou evangélicos no campo político  por uma razão muito simples:  parece que a senhora tem o vírus  de uma reacionária de esquerda.

Atenciosa e respeitosamente,

GENERAL DE DIVISÃO REFORMADO DO EXÉRCITO FRANCISCO BATISTA TORRES DE MELO.

(Um militar de ontem, que respeita os militares de hoje, que pugnam pela Lei e a Ordem)

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