Seminário sobre energia nuclear – REEB

Aspectos políticos e  ambientalistas

Dias 23 e 24 de maio de 2013 realizou-se o 2º Seminário sobre Energia Nuclear- Aspectos Econômicos, Políticos e  Ambientalistas , promovido  pelo Laboratório de Geografia Física do Instituto de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro-UERJ, COPPE/UFRJ, sobre A Segurança nas Usinas Nucleares Post Fukushima, Acidentes Radioativos: Impactos Socioambientais, Aplicações das Radiações Ionizantes: Riscos e Benefícios.

Com participantes da Marinha do Brasil – Almirante Alan Paes Leme Arthou, sobre o Programa Nuclear da Marinha do Brasil – Matrizes Energéticas e Desenvolvimento Sustentável no Brasil; Assistente da Presidência da ELETRONUCLEAR – Doutor Leonam dos Santos Guimarães, sobre As Usinas Nucleares de Angra dos Reis e o seu Entorno; Professora Fernanda Correa da Costa, Editora e Coordenadora da Revista de Estudos Estratégicos Brasileiros da Universidade Federal Fluminense, Pesquisadora do Programa de Base Logística de Defesa do INVEST-UFF e Comentarista de Assuntos Estratégicos;  Professores da UFRRJ, UERJ, profissionais ligados à Área da Energia Nuclear e da  Associação Brasileira de Engenharia Nuclear.

Muito bom e objetivo, bastante concorrido, com auditório atencioso lotado.

Sobre a parceria da Marinha do Brasil com a França, podemos afirmar que é extremamente lógica, comercial e política, principalmente, a parceria militar com a França. O Brasil é inclusivo, mas, não se deixa influenciar. A França e o Brasil se unem, não contra este ou aquele país: o Brasil se une para fugir da dependência e de toda e qualquer forma de influência.

Por questões de segurança, na época em que o mundo era dividido em esferas de influência entre a URSS e os EUA – o Brasil, por razões históricas e geográficas, foi classificado como um dos aliados menores – satélites, aqueles que não têm luz própria – sem nenhuma vantagem para o Brasil.

Terminada a bi-polaridade de poderes, os satélites se colocaram na incomoda posição de subordinação à hegemonia Norte-Americana. A tendência apontava para um poder multipolar, cada grupo com um líder e seus satélites. Com relações de satélites a Colômbia e o Peru aprofundaram as suas ligações de dependência com os EUA. A Venezuela, o Equador e a Bolívia idem, através de alianças desequilibradas, com a Rússia.
Impossível para o Brasil, continuar satélite, dissimulando conhecimentos científicos, tecnológicos e dissimulando o conhecimento dos seus recursos naturais energéticos, os quais urgiam por uma destinação utilitária, em benefício da população brasileira.

A partir daí, não houve mais nenhum subterfúgio, nenhuma dissimulação: o Brasil não é satélite, o Brasil tem luz própria. Entenda-se como luz própria, os recursos naturais energéticos do subsolo brasileiro: urânio, nióbio (São Gabriel da Cachoeira) lítio, berilo, outros minerais nucleares e hidrocarbonetos: petróleo, gás e outros. Desde então, a disputa pelo controle dos recursos naturais brasileiros ficou óbvia – sem qualquer razão para contemporizar. As desconfianças pré-existentes, tornaram-se verdadeiras.

No Brasil, a necessidade de parcerias viáveis e confiáveis se fez patente. O Brasil passou a tender em optar pela França, formando um bloco onde os parceiros têm a mesma importância. A França secular – jamais dissimulou e sempre procurou não se submeter a hegemonias.

A França, um dos países mais sofisticados tecnologicamente do mundo, entretanto, não dispõe de base física para conseguir, sem alianças, ser um dos polos de poder mundial. O Brasil, país continental, com mercado crescente, enorme produção agrícola, biocombustíveis, pré-sal, as maiores jazidas de urânio do planeta e com a Amazônia para conservar e explorar – tornou-se para a França, o parceiro ideal.

Como nenhum bloco pode ser significativo sem os recursos naturais de um país continente, o Brasil poderia ser o parceiro ideal para qualquer outra potência tecnológica sem base física. Mas, o Brasil escolheu a França.
A França visa o acesso a recursos naturais escassos no mundo, entre os quais, o urânio. A França é uma potência nuclear. Na parceria, houve interesse estratégico do Brasil: a certeza da transferência de tecnologia que propiciará o avanço almejado, na área nuclear brasileira.

Quanto à transferência de tecnologia, já foi dito e provado com fatos – ao longo de mais de quarenta anos, durante os quais, o Brasil conseguiu tecnologia nuclear própria (através da MB) independente de qualquer acordo de transferência de tecnologia jamais transferida – porque, a tão enaltecida “transferência de tecnologia” não existe.

A transferência tecnológica entre concorrentes comerciais nacionais e internacionais significa dar facilidades ao concorrente (ou, seja, entregar o mapa da mina do ouro aos concorrentes) e disto ninguém duvida mais. Transferência de tecnologia não é mais justificativa para se assinar contratos comerciais nacionais e internacionais. Transferência de tecnologia é argumento utilizado, de um modo geral, pelos desavisados (?) intermediários, interessados na assinatura do contrato.

Mas, a França tem uma tecnologia preciosa, desconhecida do Brasil, que não a prejudicará, de modo algum, se transferida. Trata-se da administração dos rejeitos nucleares. Em uma das cidades francesas, o lixo atômico é processado a olho nu, protegido por paredes envidraçadas, ponto turístico francês.

O Governo do Brasil fechou uma grande parceria com a França: não se comprometeu, de modo algum, a ser mero fornecedor de urânio in natura, para nenhum bloco regional, por mais amigo, forte e poderoso que seja.

O Governo Brasileiro acertou na estratégia: a parceria Brasil-França formará um novo centro de poder, com parceiros iguais e complementares.

Os incansáveis batalhadores da “ecologia”, proliferadores do “terror” nuclear, do “apavorar para paralisar os usos da energia nuclear no Brasil”, estavam bem representados. Exemplificavam com Chernobill e Fukushima (Three Miles Island foi mencionada de passagem: já está bastante decodificada, face à segurança das inumeráveis usinas nucleares dos EUA, fornecendo energia econômica e limpa para a indústria e os lares norte-americanos).

Apesar da população brasileira não acreditar mais no “perigo” das usinas nucleares, o site www.ibin.com.br , contendo trabalho científico e técnico mostrando as diferenças das usinas de Japão, Chernobyl de Angra dos Reis  –   provando cientificamente que as usinas nucleares brasileiras, localizadas em Angra dos Reis são mais seguras do  que as referidas usinas – foi disponibilizado a todos, objetivando pesquisa e esclarecimento público.

Foi dito e deve ser repetido à exaustão:  o importante em termos da segurança das usinas nucleares  brasileira é  prever  – para não acontecer no Brasil  – a sabotagem nuclear (igual a ocorrida em  Alcântara, no Maranhão).

Foi dito que a campanha contra a utilização da energia nuclear para fins pacíficos no Brasil é  simplesmente uma guerra comercial feroz, na qual aos interessados esperavam contar com o apoio da ignorância da população brasileira. Foi explicado que, acostumados a levar graciosamente a matéria-prima minérios nucleares do subsolo brasileiro, com a intenção de  vendê-la a preço de ouro ad eternum para o Brasil  – até aqui, “o”cliente preferencial –  não conseguiam se acostumar com a idéia da iminência de terem que pagar o preço justo com o valor agregado da referida matéria-prima. Principalmente,  não se conformavam em não mais conseguir vender a tecnologia que o Brasil já detinha – genuinamente brasileira – graças aos técnicos da Marinha do Brasil.

Um tanto demagogicamente, foi dito que os estudantes é que seriam os donos de tudo, e que a decisão de dar continuidade ou não ao programado em termos de energia nuclear no Brasil, dependeria deles.

Neste ponto, foi lembrada a importância de professores e alunos da UERJ entenderem bem  e lembrar à futuras gerações de brasileiros, que é preciso deixar patrimônio . Que o patrimônio investido nas usinas, nucleares era muito grande, há mais de quarenta anos  investido,  objetivando oferecer aos contribuintes de todo o investimento – estudantes da UERJ, das Universidades e de todos os nacionais e estrangeiros residentes no Brasil – uma energia econômica, segura, ecologicamente correta e portátil: podendo ser instalada onde quer que se fizessem necessárias, sem ter que indenizar pelas desapropriações, sem violar o habitat natural, a biodiversidade,  etc.. E que  paralisar os enormes investimento na área da geração da energia nuclear era um acinte á inteligência de todos, um verdadeiro assalto ao Tesouro Nacional.

Foi explicado, também, que  a construção das usinas geradoras de energia nuclear não tinha sido “obra de um general-ditador”. A necessidade de se utilizar a energia nuclear no Brasil foi a conseqüência lógica de amplos estudos, iniciados com o Almirante Álvaro Alberto da MB em 1925, que contou com o convencimento e apoio do Presidente Getúlio Vargas, objetivando dar destino utilitário aos minerais nucleares estratégicos que jazem no subsolo brasileiro. Estudos que terminaram com a aceitação do convite efetuado pela a Alemanha – através do embaixador do Brasil Paulo Nogueira Batista –  pai do atual representante brasileiro no FMI- que agendou e preparou a visita do Presidente Geisel, objetivando a parceria Brasil-Alemanha, no Acordo de Bonn.

Finalmente, foi feito quase que uma exortação aos estudantes da UERJ, das Universidades do Brasil e aos brasileiros de modo geral, no sentido de não se deixarem usar,  e nem, trabalhar contra os próprios interesses, porque, quem não estiver ganhando muito para defender o indefensável é porque está pagando muito caro para não ter o Brasil desenvolvido na sua infra-estrutura –a qual se fundamenta, na energia.

Informar é preciso. Inimaginável concordar com o “devagar, quase parando” do Programa Nuclear  Brasileiro. As intenções do ex Vice–Presidente  Marco Maciel, em construir as usinas no Nordeste, devem ter necessariamente solução de continuidade. Absurdo, dos absurdos não unir as pesquisas da Marinha com as das Estatais  brasileiras, porque, absolutamente não são departamentos estanques e, portanto devem por dever de ofício, trabalhar juntas.

Absurdo dos absurdos continuarem importando urânio enriquecido a peso de ouro e exportando o nosso urânio a preço vil, para enriquecer, ainda mais, os que já se enriqueceram muito, a custa, ou, da “complacência”, ou,  do descalabro da política nuclear brasileira -política nuclear estrangeira, mantida a custa do erário público brasileiro, melhor dizendo. Não dá mais para tergiversar. A não ser que continuem insistindo em paralisar mais de 60 anos de pesquisas ininterruptas dos pesquisadores e técnicos brasileiros.

Parabéns aos organizadores. Que venham outros eventos esclarecedores, abertos ao  público – no Instituto dos Advogados Brasileiros, na Associação Brasileira de Imprensa, no Clube de Engenharia, na Escola Naval.

Profa. Guilhermina Coimbra.