Sarney tenta explicar…

Ernesto Caruso. 18/06/2009

Nomeação de netos.

Assim anunciou o telejornal da Band na noite de 16/06/09.

Uma defesa triste, colocando-se como vítima no processo, perseguido por tudo e por todos, alegando uma conduta ilibada ao longo de mais de meio século nas atividades políticas, legislativas, executivas, estaduais e federais.

Alinhavou argumentos históricos, lembrando de tantos quantos foram àquela tribuna para se defenderem. Discorreu pausadamente, transformando palavras em lamento, ansioso por compreensão, comover e ganhar absolvição dos seus pares, estendendo alguma culpa a todos, assim como emocionar o público que o assistia pela TV Senado.

Dentre os fatos abordados e procurando aproveitar o tema tão a gosto dos novos aliados políticos, pontilhados por egressos da luta armada, disse que recebeu a ditadura de frente, ainda como deputado, ao discursar em plenário no dia 5 de abril de 1964, contra cassações arbitrárias, quando a tropa ainda estava nas ruas.

Não parece ter sido bem assim. Será que foi admirador de Lamarca, Genoino, ou manifestou-se contra a prisão do Lula sindicalista? Integrou a ARENA em 1965, que apoiava o governo e não o MDB (depois PMDB) que era oposição. Foi presidente da ARENA e do PDS que a sucedeu. Na sucessão presidencial em 1985, por divergências internas, desembarcou desse partido, participou da formação do PFL e de uma aliança com a oposição e disputou a eleição indireta como vice de Tancredo Neves. Claro que com compromissos formalizados.

Na mesma linha de raciocínio, sem nenhuma necessidade, a não ser reforçar o mimetismo, alega que só conheceu ato secreto durante o tempo do presidente Médici, o qual teria declarado que haveria a edição de decretos secretos. Reforça que não sabe o que é ato secreto e que “aqui, no Senado, ninguém sabe o que é ato secreto”.

Uma citação infeliz, inoportuna, que não contribuiria em nada para quem — todos sabem — esteve sempre no partido dos governos militares e agora faz parte da base governista de Lula/Dilma/Dirceu/Genoino.

Por outro lado não é o que relata Dora Kramer n’O Estado de S. Paulo em “O ilícito é a lei” (12/06/09) destacando que dois repórteres revelaram a existência de mais 300 atos secretos distribuindo empregos, cargos em comissão, aumentos de salários, operações bancárias fora dos limites da lei, assistência médica vitalícia para funcionários, pagamentos de horas extras não trabalhadas e toda sorte de decisões sem controle.

Assim, como não conhece ato secreto, não sabe da nomeação de parentes por outros correligionários.

Será que desconhece a palavra nepotismo, quiçá, hoje, de tão digitada e divulgada, mais conhecida pelo povão do que as expressões do centenário Hino Nacional de um Brasil atingido por um raio vívido de desamor por seus homens públicos e desesperança do povo heróico que deu o brado retumbante e deseja manter o sol da liberdade em raios fúlgidos e que se erguida a clava forte da justiça, lutará em sua defesa até a neutralização dos seus inimigos, para que continue gigante pela própria e rica natureza, ameaçada interna e externamente de apropriação dos seus recursos e fragmentação do seu território.

Ora, se o presidente não sabia de nada, não é possível que a sua família bem composta, como afiança, o colocasse nesse compasso de vulnerabilidade decorrente da nomeação, por seus pares, do neto como gratidão. O referido neto não é filho de um político? E o colega não sabia o que se praticava de errado?

O que tem de rasteiro e pode não ser esse o caso, é a nomeação cruzada para cargos públicos. O senador/deputado nomeia o filho/descendente do outro e vice-versa.

Circula pela internet cópia de uma reportagem sobre a nomeação da filha do senador Sarney no passado, faz algum tempo, o que intriga e acrescenta a questão dele ser eleito pelo Amapá, quando todos sabem das suas raízes, caule, folhas e frutos maranhenses.

Lembrar do presidente Médici não foi bom. Homem digno, não ficou rico, como também não se locupletaram os outros generais presidentes. Não construíram, nem tiveram castelos. Um ostentava com orgulho no nome, Marechal Castello Branco não de pedra e desonra, mas como símbolo de retidão. Entendiam castelo como fortaleza de caráter, não se dobravam, não se calavam para mais adiante serem premiados com um cargo de conselheiro ou coisa que o valha, aqui nas empresas Brás da vida ou acolá do dólar como padrão.

Fica claro que esse tipo de governo PT tem uma regra de procedimento que serve de alerta a adversários e aliados. Aquele que ameaça à sua estabilidade ou à sua continuidade no poder vai sentir a intensidade da força de reação até ruir e virar pó ou refletir e se acomodar, sair de cena quando puder. A trama pode ser montada, notada, descoberta e vazada. No contexto da reação, uma imprensa comprada. Nesse patamar estão os cargos de presidentes, do STF, da Câmara dos Deputados e do Senado. Lembrem-se do passado recente e o caso presente. O PMDB brigou por posição, Sarney disputou o voto e se elegeu presidente do Senado, com apoio da oposição, com nítida visão sobre a eleição de 2010. Eu tenho a força, deve ter pensado. Diz o PT: não tem e vou provar.

O que vimos agora com o afago do presidente Lula o defendendo, como fez com o senador Renan Calheiros, juntando o pó, mas venerando-o.

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